sábado, novembro 27, 2010

motivos



sim, porque eu costumo ter muitos motivos pra viajar... mas descobri que não se precisa de motivos...
aliás, não se precisa de motivos, ponto, não importa sobre o quê.

2 comentários:

Paulo Ramos disse...

Objectiva, Seca e Adorável...
simplesmente.

Nunca Mais Soube Nada de Ti, Márcia.

Paulo Ramos disse...

Contexto
Portugal, Trofa, 26 de Maio de 2012.

Tantas lembranças, memórias e recordações, tantos cacos de cristal no chão do estômago, essas fotografias amarelo-negras nas paredes do tórax, e esses recortes de muitos jornais, neurocirurgicamente separados e tão espasmodicamente reagrupados.
Lembrar de amores que desapareceram na correnteza; lembro-me de ter tocado, furtivamente, o teu cotovelo enquanto me contavas um fracasso emocional dos teus. Passo as mãos no topo, vazio, da minha cabeça, a lembrar do tempo em que reclamava de ter que cuidar da cabeleira. Lembro, também, vagamente, um por-de-sol nas pedras nuas da praia, tuas costas douradas, tuas costas desertas, tuas costas a destilar o sal.
Recrio na boca o seco absoluto do (palato) planalto central e bebo rios de olhares à minha volta... é como se todos os que amei estivessem, sempre, a flutuar sobre a minha cabeça, a cuidar-me, a guardar-me, a impedir-me de esquecer. Recupero nas narinas as cascas das laranjas que descascava para ti, as sardinhas, as rosas, os enterros e a chuva a pesar nos ombros.
Dei meu coração e, alguns, esqueceram-se de lhe dar corda. Abri o meu peito e, muitos, não me quiseram habitar. Muidei meus hábitos alimentares e comi meus amores (perfeitos) até vomitar (bulimia romântica). As memórias a serem regurgitadas e a trazerem à boca o ácido da perda, o oco do esquecimento (alzheimer romântico) e tantas vezes fui eu outros, tentando ser eu mesmo.
Ao fundo, em crescendo, ouço as 33 variações sobre uma valsa de Diabelli, de L.W. Beethoven, versão do Uri Caine. Lembro-me de passar uma enormidade de tempo a olhar para o diamante no pescoço de Bastet, no British Museum. Templos inteiros, paredes, tectos, mosaicos, uma profusão de expressões, um excesso de formas.
Podes beijar-me ou dar-me um beijo, a opção é tua, escolhe tu que eu deixo; ou, por outro lado, podes, simplesmente, beijar-me. Só quero isso, assim, simples e excessivo, um beijo, nem que seja magro, seco (anorexia romântica), roubado (cleptomania romântica), um beijo que desidrate a minha saliva.

Paulo Acacio Ramos